Bertha Lutz

Bertha Lutz
Nascida em São Paulo, no dia 2 de agosto de 1894, Bertha Lutz foi, durante várias décadas, uma das principais líderes do movimento feminista brasileiro. Filha do cientista Adolpho Lutz, Bertha retornou da Europa em 1918, onde formou-se bióloga pela Universidade da Sorbonne, em Paris. Ingressou, em 1919, por concurso público, no Museu Nacional, sendo a segunda mulher a ingressar no serviço público brasileiro.

Juntamente com um grupo de ativistas fundou, em 1919, a Liga para Emancipação da Mulher, embrião da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), que, ao longo das décadas de 20 e 30, lutou pela conquista do voto feminino. Com origem na elite econômica do país, Bertha aproveitou o acesso a políticos e jornalistas para divulgação e ampliação de sua luta.

Uma das principais táticas utilizadas pelas sufragistas brasileiras foi tão polêmica quanto eficaz: a instrumentalização do papel de "guardiã da família" atribuído a elas pelos adversários à participação política da mulher. Neste sentido, Bertha considerava, sim, as mulheres detentoras de um sacro papel, definido no "início dos tempos", mas imaginava uma sociedade em que o "lar" fosse muito mais amplo que as paredes domésticas. Lar também seria o Congresso Nacional, e outras instituições públicas, onde a sensibilidade e a visão de mundo femininas poderiam colaborar para um futuro melhor. 
   
Segundo a professora e pesquisadora da Universidade Federal Fluminense, Rachel Soihet, o movimento liderado por Bertha "buscava revestir seu discurso de um tom moderado, (...), por razões estratégicas" (...) "Assim, aquelas feministas, ao utilizarem-se da imagem canonizada da maternidade, embora, de um lado, demonstrem aceitar certas diretivas estabelecidas para as mulheres pela ordem vigente, de outro, buscam sua instrumentalização com vistas a ampliar seu espaço de atuação, o que acreditavam inviável de outra forma".

Alguns autores, como Branca Moreira Alves questionam a escolha das sufragistas, imaginando que tal movimento contribuiu, em suma, para reforçar os preconceitos atribuídos à condição feminina ("mãe", "guardiã da família"), na medida em que os mesmos foram usados para legitimar a luta por maior participação na sociedade.

Em 1933, na primeira eleição em que as mulheres puderam ser votadas para cargos federais, Bertha Lutz concorreu a uma vaga na Câmara Federal pela Liga Eleitoral Independente do Rio de Janeiro. Apesar de expressiva votação (mais de 30.000 votos), Bertha tornou-se suplente do deputado Cândido Pessoa, assumindo a vaga com a morte deste, em 1936. No seu curto mandato - o Congresso seria fechado por Getúlio Vargas em novembro de 1937 - Bertha dá atenção a projetos de caráter social, como a redução da jornada de trabalho e o implemento da licença gestante.

Após se afastar da política partidária, permaneceu trabalhando no serviço público brasileiro, aposentando-se em 1964. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro a 16 de setembro de 1976.


Fontes:
ALVES, Branca Moreira. Ideologia e Feminismo: a luta da mulher pelo voto no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1980.

SOIHET, Rachel. Transgredindo e conservando, mulheres conquistam o espaço público: a contribuição de Bertha Lutz. Revista eletrônica labrys, estudos feministas, n. 1-2, julho/dezembro 2002.